domingo, 12 de agosto de 2012

Oi pessoal,
De volta para casa... home sweet home!
Minhas impressões sobre os Jogos de Londres? Encontrei alguém que conseguiu condensar meus sentimentos explosivos em um lindo e sincero texto.
Com a palavra, João Rodrigues*:

""Cinco da manhã. A chuva cai com violência nas claraboias do meu quarto, despertando-me do sono. Não volto a dormir, com a mente cheia de flashes dos dias anteriores, que nem a água que corre pelas janelas é capaz de arrastar ou mesmo diluir
. Não tenho dores, mas mal me consigo mexer. Como se o corpo tivesse perdido substância, tornando-se etéreo, volátil e no entanto, paradoxalmente, pesado como o chumbo. 

Por mais que me esforce, as imagens não param de aflorar na minha mente. Todos os erros, todos os momentos cruciais. As largadas, as viragens, as infindáveis bolinas e popas, tudo corre a uma velocidade vertiginosa, enterrando-me mais e mais no colchão. Cubro a cabeça para esconder-me da claridade, mas é em vão.
Depois tudo começa a retroceder, como água a escoar pelo ralo. Toda a preparação, todos os dias, semanas, meses passados aqui. Teria valido a pena?
Mas a mente é como um tanque de água. Deixei que este esvaziasse, levantei-me e preparei-me para a derradeira jornada.
Parecia estar condenado a nem entrar nos vinte primeiros. Mas depois, finalmente, o vento baixou, já não era possível planar e o equipamento deixou de ser relevante. E terminei com um sorriso na cara. Veio na melhor altura, mas deixou-me a pensar no que poderia ter acontecido, tivéssemos tido mais regatas com este vento. Enfim, águas passadas!
Termina assim um ciclo. Foi um privilégio de facto pertencer à Família Olímpica. E hoje, quando tiramos uma fotografia que ficará para a história, com todos os velejadores de windsurf que marcaram presença neste evento, fiquei orgulhoso de estar ali, entre os melhores atletas do mundo, companheiros de tantas horas na água e em terra, amigos para sempre!
Obrigado a todos os que tornaram tudo isto possível! Familiares, amigos, conhecidos, a todos, o meu muito obrigado! Claro que valeu a pena! Vale sempre a pena!""



* João Rodrigues é um atleta, um amigo e um ídolo. Tenho sorte de conhecer essa pessoa tão boa e com tanta coisa para ensinar. O português da Ilha da Madeira é um dos mitos do windsurf olímpico, conseguiu todos os títulos possíveis nos seus 1001 anos de campanha, só fica faltando a medalha Olímpica. "Claro que valeu a pena! Vale sempre a pena!"!!!!! Valeu, João... sem palavras....

sábado, 11 de agosto de 2012

Problemas nos Jogos Olímpicos

Oito anos de treinamento, fortunas gastas comprando equipamento, contratando técnicos, viajando o mundo, lesões, lesões e lesões. Isso se chama campanha Olímpica e era esse filme que passava na minha mente regata após regata em uma constante luta contra o equipamento que, por mais que eu tentasse ajustar e até trocar, não funcionava. Não vou ficar contando uma historinha triste para sensibilizar as pessoas, o que aconteceu foi fato: a Neilpryde, fabricante da prancha olímpica RS:X, falhou gravemente no controle de qualidade do equipamento fornecido aos atletas para a participação nos Jogos de Londres. O desapontamento foi geral e para que não ficasse barato, a equipe brasileira encaminhou a seguinte carta para o juri dos Jogos:

""Weymouth, 6/8/2012

FROM: Brazilian Olympic Sailing Team
TO: International Jury
CC: ISAF Technical Delegates, Equipment Inspection Chairman


REPORT TO INTERNATIONAL JURY ON PROCEDURES FOR CHANGING RSX SUPPLIED EQUIPMENT

ABSTRACT: This reports shows a problem occurred during the 2012 Olympic Games regarding the procedures of changing supplied equipment. It is intended to improve this process in future sailing events and to alert the International Jury of possible abuse by some sailors in changing supplied equipment in order to achieve a better performance.

REPORT:
1.       During the practice period, the Brazilian windsurfer, Patricia Freitas, noted a lack of performance of the supplied equipment. The fin did not provide lift and it suffers from “spinout” problems.  She tried to change it, but it was denied by the EIC.
2.       After race 4, based on rumors that there where several sailors changing their equipment, Patricia Freitas asked again to change her equipment with just a superficial gelcoat crack not looking as severe damaged as required by EIR 3.5. The fin was changed.
3.       Surprised with the decision, the Brazilian Team requested during the morning meeting on 3rd August that all equipment forms were to be published, as is common practice in many sailing events in order to investigate the rumors about equipment changes abuse from the competitors. The request was denied.

CONCLUSION:
4.       Despite the great effort in order to improve the quality, the equipment supplied varied in terms of performance.
5.       It is possible that the decision to replace equipment has been made without complying with EIR 3.5. This could have allowed some sailors to make several equipment changes at early stages of the regatta. Unfortunately, this could not be verified, as the requests for changing form were kept confidential. At no point, we are questioning the honesty of the person in charge of authorizing the changes of equipment. But the decision making process could have be affected by the pressure made by some sailors
6.       The differences on equipment and the lack of consistence in allowing changes in the equipment may had prejudiced the fairness of the windsurf competition.

REQUEST
Based on this report and the conclusion, the Brazilian Sailing Team requests:
7.       To reconsider the decision of not publishing the equipment change forms. If the intention is to avoid last minute protests, we request that total number of the fins and boards changed to be disclosed.
8.       That the supplied equipment procedures to be change for future events, adding practices to improve the transparency like public draw of equipment and that all changes requests and decisions to be published on the official notice of board.""


Muito bom, muito bonito, mas e aí? O que vai acontecer? Não sei, provavelmente nada, ou melhor, provavelmente a ISAF (International Sailing Association Federation) vai abafar o caso e daqui a quatro anos a mesma coisa vai acontecer. Parece novele não é? Triste.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Skandia Sail for Gold: sexto lugar!!


Bom dia!
Acabo de chegar da Inglaterra, onde corria a Skandia Sail for Gold.
Essa regata é uma das mais importantes do ano pelos seguintes motivos:

  1. Foi realizada na raia e na marina Olímpica (onde serão realizados os Jogos Olímpicos deste ano)
  2. A maioria das seletivas dos países já acabou e foram selecionados os atletas que integrarão as respectivas equipes. As meninas com quem competi irão, em sua maioria, participar dos Jogos Olímpicos.
  3. A EBV está completa, com todos os atletas que vão participar dos Jogos (Fernanda e Ana- 470; Bruno- laser; Jorginho- Finn, Robert e Bruno- Star; Adriana- Laser Radial e Ricardo/Bimba- RS:X). Viajamos com a equipe completa que vai nos acompanhar nos Jogos, com massoterapeutas, fisioterapeutas, técnicos e o teamleader.
  4. É a última regata antes dos Jogos Olímpicos de Londres.


Por esses motivos, a regata realizada na semana passada é muito semelhante ao que veremos em Agosto em Weymouth.

Terminei o campeonato em sexto, um resultado muito bom. Posso apontar alguns fatores que me ajudaram a alcançar essa colocação. O trabalho que tenho realizado com meu técnico e meu treinador físico fez uma grande diferença. Comecei a trabalhar com eles há pouco menos de um ano, quando comecei a mostrar resultados significantes que me deram direito a essas “mordomias.” Com esse espaço curtíssimo de tempo que tivemos fizemos de tripas coração no melhor estilo “vamo que vamo.” Além disso, uma semana antes da regata levei comigo um grande amigo e velejador para me ajudar nos treinos e a fazer os testes finais de equipamento. O Albert é um dos atletas mais talentosos e a pessoa mais leve e de bem com a vida que conheço. Depois, contratamos um técnico holandês para dar um polimento na minha técnica e regulagem do equipamento. O Casper é um dos grandes nomes da Fórmula Windsurf da atualidade, já foi atleta olímpico nos Jogos de 2008, e é uma figura engraçadíssima. Somando isso tudo, fiquei com uma equipe de profissionais de alto nível fazendo um trabalho sério e que ao mesmo tempo era um grupo de amigos indo se divertir dentro d’água. Ha uma semana de um campeonato dessa importância, estar com a cabeça leve é um diferencial IMENSO e devo isso a eles.

Agora, de volta ao Rio, pretendo me mudar para Búzios nesse mês que me resta antes dos Jogos e convocar o pessoal de lá para treinar comigo. Também vou meditar e almejar a mesma leveza de espírito que encontrei antes da Skandia Sail for Gold- ser uma pessoa leve é muito mais fácil, mas chegar nesse estágio é muito difícil, tão crucial para quem vai representar o país nas Olimpíadas de Londres. 

Nos vemos em Weymouth! ;)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ISAF decide tirar o windsurf dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016

Pois é, a fatídica decisão chegou.

Durante o último ano as pessoas me perguntavam o que eu achava da possibilidade (muito remota, naquele tempo) de trocarem a RS:X (prancha olímpica) pelo Kitesurf. Obviamente eu respondia com a pseudo-autoridade e certeza de quem pratica o windsurf há quase 10 anos, contaminada pelo paradigma de que o windsurf, assim como o Star (classe que também levou um pé-na-bunda para os Jogos do Rio), iria durar seus 80 como esporte olímpico. O windsurf foi convidado para os Jogos Olímpicos em 1984 e passou por diversas mudanças e modernizações no equipamento até chegarmos ao que temos hoje. Nesses quase 30 anos de prestígio, diversos atletas ganharam reconhecimento internacional, como Barbara Kendall (NZL) e Alessandra Sensini (ITA), que além de ídolas pessoais também colecionam medalhas de todas as cores- vale dizer que para essa decisão da ISAF, a italiana declarou: "Non ha senso!!!!"- mas mais do que isso, esse esporte tão bonito define para muitos o que é o estilo de vida. Só quem veleja de wind sabe o que é planar, sabe reconhecer o barulhinho que a prancha faz quando desliza sobre a água, sabe que dia ensolarado que amanhece com um ar fresco é dia de lestada e mais do que isso, sabe o que é estar sozinho na imensidão do oceano, acreditando que naquela hora aquele equipamento é nosso melhor amigo e aliado.

A decisão foi tomada por políticos da ISAF que se defendem dizendo que escolheram equipes especializadas para avaliar ambas propostas (do wind e do kitesurf) para chegar a uma decisão final. Eu, no meu momento de raiva, fui procurar quem foram os responsáveis por isso e vi que nesse comitê avaliador não há velejadores que competem profissionalmente na atualidade, nem do wind e nem do kite. Maravilha! Mais uma decisão tomada sem consultar aqueles que serão afetados por ela!

Eu tento entender a posição da ISAF da seguinte maneira: a partir de 2000, o wind vem perdendo discípulos para o kitesurf (dizem as más línguas que aqueles que tentaram e não conseguiram velejar de wind migraram para o kite) e numa tentativa de se atualizar e atrair mais espectadores para os Jogos (afinal de contas, it's all about the money), surgiu a ideia de convidar o kite.... às custas do wind!

Quando recebi a notícia fiquei atônita, boquiaberta, chocada e resolvi consultar o maior meio formador de opinião da atualidade: Facebook- para os íntimos, o Face. O ar era de insatisfação, de incredulidade, de decepção.. acho que no momento estávamos todos desnorteados porque afinal de contas dedicáramos nossas vidas até aquele momento a uma coisa que simplesmente evaporou, em outras palavras, estávamos todos desempregados! (hehe)

Mas, como nos foi ensinado por Darwin, adaptar-nos-emos! A palavra é tão difícil quanto a ação que ela implica. Evolução? não sei.......(sussurrando: está mais para retrocesso!)


Agora, no processo de digestão dessa ideia, tenho me divertido assistindo a vídeos de regatas - e cassetadas- de kite, é só procurar no Youtube, kite entanglement que vídeos irão brotar na sua tela. Vale a pena, só espero que não sirvam como prólogo do que pode acontecer na Baía de Guanabara em 2016.

Aliás, falando em Baía, vai ser no mínimo engraçado ver/participar das regatas de kite no Rio. Eu treino na Baía de Guanabara desde 2005 e minha especialidade é o vento fraco. Por que será? Porque na Baía só tem vento fraco!! Espero que a marca responsável pela fabricação dos kites olímpicos saiba disso porque senão corremos o risco de não realizarmos regatas nos Jogos do Rio- sem exagero*!

Mas, como relembraria um amigo, "ob-la-di, ob-la-da, life goes on" e para aqueles que ainda têm sonhos olímpicos, mexam-se e comprem um kite.. eu já estou atrás do meu! ;)



* pela demostração de kites de regata que vi em Miami no ano passado, eles não conseguem (ou não conseguiam) velejar com menos de 6 nós.

domingo, 18 de março de 2012

Campeonato Mundial RS:X em Cadiz, Espanha

Na verdade é em Puerto de Santa Maria que é a ponta oposta da baia em relação à Cadiz

Aliás, ver uma baia tão limpa assim me dá certa 'nostalgia do futuro' em ralação a Baia de Guanabara.. um futuro muito otimista.. meu futuro imaginário, onde a baia também terá águas verdes, transparente nas partes mais rasas, pescadores de final de semana em seus barquinhos ancorados perto das margens, milhares de velejadores do mundo todo que nela encontram um mar tranquilo.

Mas, como é hora de viver o presente, aqui estamos em Puerto Santa Maria treinando para o Mundial de RS:X que começará nesta semana

Desta vez tive a oportunidade de vir para o local do campeonato duas semanas antes de começar para aclimatação, teste de equipamento e obviamente para treinar com mais meninas! E com certeza valeu a pena. Estou confiante para o campeonato, tenho velocidade e um equipamento bom (com as dificuldades de sempre especialmente na fábrica da Neilpryde que se esforça em manter um controle de qualidade muito aquém do que se espera de um equipamento "one design" olímpico). Nesses dias de treino fazemos simulações de regatas, nas quais tenho me saído bem, mas ser campeão do mundo de "peguinha" não serve para nada! No dia 22 tudo será posto à prova no que é o primeiro campeonato mais importante do ano olímpico.

A torcida está forte para os israelenses Lee e Nirmod. Lee foi campeã do mundo no ano passado e Nirmod foi terceiro. Enquanto Lee esteve internada durante o verão por cause de um problema  muito grave da bexiga, Nimrod esteve em Búzios treinando com o Bimba e outros velejadores e apanhou do brasileiro na pré-olímpica de fevereiro, então se a torcida está com o israelense, é melhor que fiquem de olhos abertos porque o brasileiro também não é de se jogar fora.

Meu objetivo é chegar entre as 20 melhores, de preferência entre as 15! No mundial do ano passado terminei em 29, suficiente para classificar o país para os Jogos Olímpicos mas abaixo do que eu tinha traçado como objetivo.
Vamos começar 2012 com o é direito né?!

Se a internet do quarto continuar ajudando, mando mais notícias  :)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Vaga garantida pra os Jogos Olímpicos de Londres

Oi gente!

Búzios reuniu, na semana passada, os melhores velejadores do Brasil para competir na Semana Brasileira de Vela, uma das competições de define os atletas que vão representar o Brasil nos Jogos Olímpicos deste ano.

As regatas foram boas, a organização está de parabéns, pena que o tempo não ajudou muito.
Estou em Búzios desde o dia 27 de dezembro do ano passado e posso dizer que essa temporadas foi de ventos muito fortes. Entretanto, seguindo a "uruca" usual de campeonatos, a Semana Brasileira de Vela foi mais um daqueles campeonatos que se ouvia comentar entre os atletas: "nossa, mas o mês inteiro deu tanto vento!"
Foram 6 dias de regatas, 11 regatas, das quais a grande maioria foi de vento fraco a médio.

De qualquer maneira, o melhor velejador, aquele que mais treinou e se dedicou, tende a prevalecer sobre os demais. A equipe que ganhou a seletiva é integrada pelos mesmos atletas que fizeram parte da Equipe Brasileira de Vela nesses últimos quatro anos de campanha, desde os Jogos Olímpicos de Londres.

Apesar de enfrentarmos problemas (infelizmente)comuns em qualquer confederação ou federação de esportes no Brasil, como falta de recursos, falta de incentivo, algumas vezes dinheiro mal aplicado ou mal gasto, burocracia, muita burocracia, esta foi uma das campanhas mais completas que os atletas da Vela já tiveram... dentro das possibilidades atuais, é claro.

Não digo que todos tiveram barcos novos, renovados anualmente, ou pelo menos 5 velas novas por ano, ou que participamos de todos os campeonatos do circuito mundial, ou que todos os atletas foram abençoados com a presença de um treinador e muito menos que aqueles que tinham treinadores puderam contar com botes para o treino. Vamos por partes.

Como vice-caçula da equipe (posto que me foi tomado por Jorginho Z.), escuto diversas histórias de tempos passados, em sua maioria de cunho cômico, ou melhor, de um certo humor negro. As histórias giram em torno de "perrengues" passados em anos de campanhas anteriores, quando a Confederação de Vela e Motor ainda era a obscura Federação de Vela e Motor (hoje em dia, por virtude de um rombo nas prestações de contas, a antiga Federação funciona com um interventor do COB que teoricamente assiste em assuntos internos, e sendo assim trocou a diretoria e o nome para Confederação, mas isso é outra história). Uma das histórias mais comentadas, avaliadas e reavaliadas pelos meus companheiros anciões é de que uma certa vez, um dos dirigentes da Federação antiga foi pego recolhendo notas fiscais velhas no chão de um supermercado para fazer a prestação de contas do dinheiro que provavelmente foi gasto com outra coisa. Bonito.. e por aí vai.

Então, por comparação, evoluímos muito em relação a esse período, mas não significa que alcançamos um patamar de excelência tal qual o time inglês.

Sobre isso eu e qualquer outro atleta podemos conversar por horas, mas como qualquer um pode ler o que escrevo, prefiro fazê-lo em particular, quando houver uma melhor ocasião.


O Time está formado e agora nos resta, neste último semestre de campanha, correr atrás de muita coisa para dar show em Londres... que a estrela brilhe!!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

OURO no Pan de Guadalajara

Oi pessoal,

Obrigada pela torcida e lamento que a emissora responsável pela divulgação dos Jogos tenha tido dificuldade em acompanhar o pessoal da vela... vídeos e fotos são raros mas no site da r7 dá para encontrar alguma coisa.

Bom,
O Pan, foi ótimo! Para começar, ficamos na simpática cidade de Puerto Vallarta, que recebe seus visitantes com a sincera placa "bem-vindos a Puerto Vallarta, a cidade mais simpática do mundo." Não deixa de ser verdade, em poucos minutos no hotel, todos já se referiam a nós como 'amigos.' Por falar em hotel, os atletas da Vela, Triatlon, Maratona Aquática e Volei de Praia tiveram o privilégio de ficar em um hotel 5 estrelas, o Crown Paradise (não se assustem, não é luxo ou exagero, era a vila oficial). O hotel ficava de frente para o mar, tinha piscina, hidromassagem, quadras de volei de praia e de tenis, 5 restaurantes.. enfim, muito legal!
Pelo que ouvi falar da Vila de Guadalajara -filas enormes, equipamentos precários, comida complicada- estávamos super bem, apesar do grande ponto negativo que é ir para uma competição do porte dos Jogos Pan-americanos e não conhecer a maioria dos atletas integrantes.

O clube que sediou as competições de vela era bastante curioso,
Localizado em uma bolha chamada Nuevo Vallarta, o local impressionava pela semelhança que têm com Miami: as casas eram modernas, lembravam algo de uma arquitetura maia ou azteca (exótico para olhares americanos), as ruas eram boas, tinha um zoológico (!!!), todos falavam inglês e, é claro, o Starbucks era vizinho de um McDonalds (para onde- obviamente- todos nos dirigimos depois da última regata). É bonito e ao mesmo tempo estranho e ilusório.

Outro detalhe: uma placa assombrosa recebia os atletas que iam até a rampa para deixar seus barcos na água: "não alimente os crocodilos" CROCODILOS???!!!! Sim, nosso clube fica no final de um rio, que desagua no mar logo adiante e, por conta disso, a fauna é bastante diversificada. Era comum velejarmos entre golfinhos e no último dia pude até ver uma iguana nadando perto da minha prancha.
Mas, aparentemente, diversos animais marcam presença na cidade, inclusive tigres, segundo um taxista; "mas o senhor tem certeza? Aquele tigre siberiano, o maior e mais forte de todos os felinos? Aquele que até está em extinção?"   -"sim sim, esse mesmo."
                                        .....então tá..
Depois dessa, me perguntei: e porque será que um dos mascotes dos Jogos é um leão? Será que também existe uma versão mexicana do felino? Para essa indagação me responderam: é porque existem muitos leões nos zoológicos do estado.
                                                    ........huuuummm, entendii..

Bom, no que diz respeito às regatas, correu tudo bem.
Só houve dois incidentes mais complicados. Em uma das regatas, eu seguia para a reta final em primeiro e um dos barcos, ou melhor, o único barco da imprensa entrou na minha frente. Houve colisão, a pancada quebrou minha prancha, mas felizmente consegui me recuperar e mesmo assim cheguei em primeiro nessa regata. O outro incidente foi na primeira regata do campeonato: uma das boias que marca o percurso não foi fundeada corretamente e acabou saindo de lugar, impedindo que as duas últimas meninas pudessem completar o percurso. Nessa regata eu tinha tirado um primeiro e a minha maior concorrente um terceiro, mas esta e mais uma (que havia queimado a largada dessa regata) se juntaram para protestar (ação que implica ir diante de um grupo de jurados tentar provar algum argumento em seu favor, baseado no livro de regras da Vela) a comissão de regatas pelo percurso mal montado. Apesar de um certo oportunismo, já que nenhuma das duas foi afetada por esse erro, as meninas conseguiram anular a regata. Felizmente, eu ganhei a regata substitutiva, então, no final das contas, deu tudo certo.

O momento mais marcante dos Jogos foi a entrega de prêmios, mas não porque subi no lugar mais alto do pódio, e vi lá de cima a bandeira do meu país ser hasteada, e sim porque todos os brasileiros assistindo e os demais atletas que estavam aguardando sua vez de subir ao pódio cantavam, lá da platéia, o hino em coro, muito alto para que todos ouvissem. O que geralmente é um momento sério, meio silencioso acabou virando um êxtase de emoção para quem via e especialmente para quem estava no pódio que recebia todo o calor dos amigos e compatriotas, que, nas palavras do Hino Nacional diziam: parabéns, você merece!

Puerto Vallarta e especialmente nossos hermanos mexicanos estão de parabéns!

Acho que me emploguei, já escrevi muito!
Por essa conquista agradeço principalmente à minha família, ao meu pai e minha irmã que se despencaram até o México para torcer de perto e à minha mãe e meu irmão que acompanharam tudo do Brasil. Extendo os agradecimentos também à CBVM, ao COB e à Wöllner pelo apoio de sempre :) e, logicamente, à torcida no Brasil e aos amigos que, mesmo que com muita dificuldade em acompanhar as regatas, continuaram vibrando muito!

No pódio: em terceiro a americana Farrah (direita), em segundo a mexicana Demita (esquerda) e em primeiro eu (centro)!