Pois é, a fatídica decisão chegou.
Durante o último ano as pessoas me perguntavam o que eu achava da possibilidade (muito remota, naquele tempo) de trocarem a RS:X (prancha olímpica) pelo Kitesurf. Obviamente eu respondia com a pseudo-autoridade e certeza de quem pratica o windsurf há quase 10 anos, contaminada pelo paradigma de que o windsurf, assim como o Star (classe que também levou um pé-na-bunda para os Jogos do Rio), iria durar seus 80 como esporte olímpico. O windsurf foi convidado para os Jogos Olímpicos em 1984 e passou por diversas mudanças e modernizações no equipamento até chegarmos ao que temos hoje. Nesses quase 30 anos de prestígio, diversos atletas ganharam reconhecimento internacional, como Barbara Kendall (NZL) e Alessandra Sensini (ITA), que além de ídolas pessoais também colecionam medalhas de todas as cores- vale dizer que para essa decisão da ISAF, a italiana declarou: "Non ha senso!!!!"- mas mais do que isso, esse esporte tão bonito define para muitos o que é o estilo de vida. Só quem veleja de wind sabe o que é planar, sabe reconhecer o barulhinho que a prancha faz quando desliza sobre a água, sabe que dia ensolarado que amanhece com um ar fresco é dia de lestada e mais do que isso, sabe o que é estar sozinho na imensidão do oceano, acreditando que naquela hora aquele equipamento é nosso melhor amigo e aliado.
A decisão foi tomada por políticos da ISAF que se defendem dizendo que escolheram equipes especializadas para avaliar ambas propostas (do wind e do kitesurf) para chegar a uma decisão final. Eu, no meu momento de raiva, fui procurar quem foram os responsáveis por isso e vi que nesse comitê avaliador não há velejadores que competem profissionalmente na atualidade, nem do wind e nem do kite. Maravilha! Mais uma decisão tomada sem consultar aqueles que serão afetados por ela!
Eu tento entender a posição da ISAF da seguinte maneira: a partir de 2000, o wind vem perdendo discípulos para o kitesurf (dizem as más línguas que aqueles que tentaram e não conseguiram velejar de wind migraram para o kite) e numa tentativa de se atualizar e atrair mais espectadores para os Jogos (afinal de contas, it's all about the money), surgiu a ideia de convidar o kite.... às custas do wind!
Quando recebi a notícia fiquei atônita, boquiaberta, chocada e resolvi consultar o maior meio formador de opinião da atualidade: Facebook- para os íntimos, o Face. O ar era de insatisfação, de incredulidade, de decepção.. acho que no momento estávamos todos desnorteados porque afinal de contas dedicáramos nossas vidas até aquele momento a uma coisa que simplesmente evaporou, em outras palavras, estávamos todos desempregados! (hehe)
Mas, como nos foi ensinado por Darwin, adaptar-nos-emos! A palavra é tão difícil quanto a ação que ela implica. Evolução? não sei.......(sussurrando: está mais para retrocesso!)
Agora, no processo de digestão dessa ideia, tenho me divertido assistindo a vídeos de regatas - e cassetadas- de kite, é só procurar no Youtube, kite entanglement que vídeos irão brotar na sua tela. Vale a pena, só espero que não sirvam como prólogo do que pode acontecer na Baía de Guanabara em 2016.
Aliás, falando em Baía, vai ser no mínimo engraçado ver/participar das regatas de kite no Rio. Eu treino na Baía de Guanabara desde 2005 e minha especialidade é o vento fraco. Por que será? Porque na Baía só tem vento fraco!! Espero que a marca responsável pela fabricação dos kites olímpicos saiba disso porque senão corremos o risco de não realizarmos regatas nos Jogos do Rio- sem exagero*!
Mas, como relembraria um amigo, "ob-la-di, ob-la-da, life goes on" e para aqueles que ainda têm sonhos olímpicos, mexam-se e comprem um kite.. eu já estou atrás do meu! ;)
* pela demostração de kites de regata que vi em Miami no ano passado, eles não conseguem (ou não conseguiam) velejar com menos de 6 nós.